Por José Trindade
A análise do comércio exterior, bem como a contabilidade do balanço de
pagamentos, incluindo a balança comercial, sempre foi tratada pela economia
ortodoxa como itens separados dos aspectos de interação geoeconômica e da
divisão internacional das relações de produção capitalistas e da acumulação de
capital.
O
estabelecimento de uma base teórica heterodoxa para tratamento das relações
econômicas internacionais é uma propositura necessária e que tem sido buscada
com alguma efetividade a partir do aporte da chamada “Economia Política
Internacional”.
Em seu famoso texto de 1848, Marx (2010)1 já localizava o desenvolvimento capitalista na sua real esfera de expansão: o
mercado mundial, fruto da grande indústria e da crescente competição entre
capitais e estados modernos.
Nos
últimos trinta anos a combinação da crescente desregulação financeira e o maior
afluxo de capitais gerou um novo período de globalização, cuja tônica foi
reforçar a dinâmica de uma economia capitalista plenamente mundializada.
Seguindo Arrighi & Silver (2001)2,
pode-se observar uma dupla tendência resultantes da expansão do comércio
internacional e da produção transnacionalizada: i) por um lado, gera-se uma massa crescente de capitais que
buscam valorização em qualquer ponto do planeta; ii) por outro, acirra-se as
disputas territoriais, aumentando a competição entre os Estados pelo fluxo de
capital forâneo.
A
busca de uma metodologia para estudar os fenômenos das relações capitalistas
internacionais tem estimulado diferentes esforços de formulação teórica. Vale
expor alguns elementos metodológicos da chamada Economia Política Internacional
(EPI), seguindo de perto a exposição de Gonçalves (2005)3:
“A
EPI é um método de análise que tem como foco a dinâmica do sistema econômico
internacional em suas distintas esferas e dimensões, que resulta das ações e
decisões de atores nacionais e transnacionais, cuja conduta é determinada por
fatores objetivos e subjetivos”.
Consideramos que as diferentes dimensões ponderadas estão integradas em cinco vetores de análise fundamentais:
i) A acumulação capitalista enquanto
dimensão própria, consistente com a competição em diferentes níveis dos Capitais
específicos, principalmente na forma de grandes empresas transnacionais.
ii) As relações de reciprocidade e
divergência entre os Estados nacionais, conformando esferas de influência e
campos de disputa hegemônica.
iii) As interações entre Capitais e
Estados, condicionando as relações de poder internacional e dimensionando a
maior ou menor fragilidade das economias nacionais.
iv) As diferentes esferas de contratação
necessárias ao desenvolvimento do sistema econômico internacional, seja
instituições de poder econômico amplo (OMC, Banco Mundial, FMI, MCE, etc.) ou
restritos (BIS, BIRD, ALCA, MERCOSUL, etc.), seja instituições de poder
político também amplos ou restritos (ONU, OEA, ASIAN, etc.).
v) As diferentes esferas culturais,
organizacionais, políticas e sociais de contraposição (planejada ou não) a
ordem internacional hegemônica.
Em
texto seguinte avançaremos na análise de cada um dos pontos enunciados,
buscando contribuir na formulação de pontos analíticos de uma percepção crítica
e radical da EPI.
______
(1) MARX, K.; ENGELS, F.
Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010.
(2) ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e Governabilidade. Rio
de Janeiro: Contraponto; Editora UFRJ, 2001.
(3) GONÇALVES, R. Economia Política Internacional. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2005.