sábado, 22 de setembro de 2012

Bases analíticas das relações econômicas internacionais (I)

Por José Trindade

A análise do comércio exterior, bem como a contabilidade do balanço de pagamentos, incluindo a balança comercial, sempre foi tratada pela economia ortodoxa como itens separados dos aspectos de interação geoeconômica e da divisão internacional das relações de produção capitalistas e da acumulação de capital.

O estabelecimento de uma base teórica heterodoxa para tratamento das relações econômicas internacionais é uma propositura necessária e que tem sido buscada com alguma efetividade a partir do aporte da chamada “Economia Política Internacional”.

Em seu famoso texto de 1848, Marx (2010)1 já localizava o desenvolvimento capitalista na sua real esfera de expansão: o mercado mundial, fruto da grande indústria e da crescente competição entre capitais e estados modernos.

Nos últimos trinta anos a combinação da crescente desregulação financeira e o maior afluxo de capitais gerou um novo período de globalização, cuja tônica foi reforçar a dinâmica de uma economia capitalista plenamente mundializada. Seguindo Arrighi & Silver (2001)2, pode-se observar uma dupla tendência resultantes da expansão do comércio internacional e da produção transnacionalizada: i) por um lado,  gera-se uma massa crescente de capitais que buscam valorização em qualquer ponto do planeta; ii) por outro, acirra-se as disputas territoriais, aumentando a competição entre os Estados pelo fluxo de capital forâneo.

A busca de uma metodologia para estudar os fenômenos das relações capitalistas internacionais tem estimulado diferentes esforços de formulação teórica. Vale expor alguns elementos metodológicos da chamada Economia Política Internacional (EPI), seguindo de perto a exposição de Gonçalves (2005)3:

“A EPI é um método de análise que tem como foco a dinâmica do sistema econômico internacional em suas distintas esferas e dimensões, que resulta das ações e decisões de atores nacionais e transnacionais, cuja conduta é determinada por fatores objetivos e subjetivos”.

Consideramos que as diferentes dimensões ponderadas estão integradas em cinco vetores de análise fundamentais:
i) A acumu
lação capitalista enquanto dimensão própria, consistente com a competição em diferentes níveis dos Capitais específicos, principalmente na forma de grandes empresas transnacionais.
ii) As relações de reciprocidade e divergência entre os Estados nacionais, conformando esferas de influência e campos de disputa hegemônica.
iii) As interações entre Capitais e Estados, condicionando as relações de poder internacional e dimensionando a maior ou menor fragilidade das economias nacionais.
iv) As diferentes esferas de contratação necessárias ao desenvolvimento do sistema econômico internacional, seja instituições de poder econômico amplo (OMC, Banco Mundial, FMI, MCE, etc.) ou restritos (BIS, BIRD, ALCA, MERCOSUL, etc.), seja instituições de poder político também amplos ou restritos (ONU, OEA, ASIAN, etc.).
v) As diferentes esferas culturais, organizacionais, políticas e sociais de contraposição (planejada ou não) a ordem internacional hegemônica.

Em texto seguinte avançaremos na análise de cada um dos pontos enunciados, buscando contribuir na formulação de pontos analíticos de uma percepção crítica e radical da EPI.

______
(1) MARX, K.; ENGELS, F.  Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010.
(2) ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e Governabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora UFRJ, 2001.
(3) GONÇALVES, R. Economia Política Internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

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