Por Thiago Gedson (*)
Podemos dizer que a globalização é um fenômeno gerado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma aldeia global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos desenvolvidos), cujos mercados internos já estão saturados.
O processo de globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. Assim, observamos que as relações econômicas como também as relações sociais, culturais e políticas, no âmbito global têm criado laços estreitos de interação entre vários países e, consequentemente, gerando uma dinâmica sociocultural que ultrapassa as barreiras naturais dando origem a certos conflitos de interesses entre estado-nações.
Considerando os efeitos da globalização e relacionando com os aspectos econômicos, como o surgimento dos blocos econômicos, diminuição das tarifas alfandegárias e até em alguns casos uma unificação monetária, fica bem claro que a postura em que cada país vai tomar está estritamente vinculada a sua perspectiva de alcançar vantagens que lhe retornem como crescimento econômico promissor, maior inserção no cenário internacional e ampliação do seu mercado, este ultimo, principalmente pelas condições que a globalização, via transportes e comunicação, podem oferecer.
Então, o modo de produção capitalista exige que se tenha uma interação entre países (para alcançar as vantagens acima citadas) e isso é possível graças às ferramentas da globalização, em que cada país, visando alcançar seus interesses, busca o seu crescimento econômico, mesmo que para isso venha a explorar outras nações.
Dadas essas condições, os países que economicamente estão desprotegidos se encontram em um estado de vulnerabilidade. Assim, se consideramos a baixa capacidade de resistência a pressões, fatores desestabilizadores e choques externos, podem, então, definir a vulnerabilidade e por tanto podemos aplicá-la a análise das relações externas entre nações.
Então, segundo Gonçalves (1999), “no caso das nações a vulnerabilidade externa coloca a economia em uma trajetória de instabilidade e crise, que faz com que crises cambiais provoquem crises econômicas e sociais, que acabam se transformando em crises políticas e institucionais”. Assim, a vulnerabilidade externa passa a ser uma preocupação crescente entre as nações, haja vista que as relações internacionais estão cada vez mais se interligando de forma que um simples movimento de um aumento da taxa de juro de um país pode influenciar o fluxo dos níveis de investimentos externos direto para outro país.
A vulnerabilidade externa pode ser compreendida dentro da esfera econômica analisando as dimensões financeira, comercial, tecnológica e produtiva real. Observado essas dimensões e comparando com a trajetória da economia brasileira, podemos analisar que houve um aumento extraordinário da vulnerabilidade externa do Brasil a partir de 1995, com a efetivação do Plano Real, a qual abriu a economia brasileira de forma indiscriminada, acentuando a vulnerabilidade externa.
A abertura comercial brasileira sem critérios e de baixa seletividade, acabou permitindo que produtos importados adentrassem no país gerando um nível de competitividade com as empresas brasileiras bastante desleal, pois os bens e serviços produzidos por empresas nacionais não estavam no mesmo nível de qualidade e preço que os produtos importados, e isso foi rapidamente notado pelos consumidores brasileiros que tiveram nas prateleiras dos supermercados uma variedade de bens que antes não tinham. Por trás dessa nova fisionomia da balança comercial brasileira, que tem um volume de importação maior que o nível de exportação, podemos destacar pelo menos dois aspectos importantes, visto pela ótica da vulnerabilidade externa.
Primeiro, a abertura comercial brasileira que trouxe os produtos importados para os mercados nacionais criou um ambiente de acirrada competitividade, entre empresas nacionais e internacionais. As empresas brasileiras que não tiveram condições de se modernizar e acompanhar o ritmo da concorrência com os produtos importados tiveram que fechar as portas. Obviamente, que as empresas que se encontraram nessa condição geraram uma massa de demissões, aumentando o nível de desemprego.
O segundo aspecto a destacar gira em torno da mudança dos produtos da pauta de exportação brasileira, pois a partir da abertura comercial houve uma diminuição da participação dos produtos manufaturados na pauta, ao passo que a exportação de produtos primários vem aumentando, gerando uma nova fisionomia na pauta exportadora do Brasil. Esse aspecto da economia brasileira é constatado por Trindade et al (2012) quando enfatiza a reprimarização da pauta de exportação brasileira ao destacar o setor da agroindústria e a mineração em detrimento da indústria de transformação.
Referências:
GONÇALVES, Reinaldo. Globalização e desnacionalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
TRINDADE, J. R. B.; COONEY, P.; OLIVEIRA, W. P. Trajetória industrial e desenvolvimento econômico: dilemas do processo de especialização primária da economia brasileira. In: XVII Encontro Nacional de Economia Política, 2012, Rio de Janeiro, RJ. Anais do XVII Encontro Nacional de Economia Política, 2012.
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(*) Bolsista de Iniciação Científica. O autor agradece ao prof. José Raimundo Trindade por seus comentários, considerando as isenções de praxe.
Thiago Gedson, foi dito a "abertura comercial brasileira sem critérios e de baixa seletividade, acabou permitindo que produtos importados adentrassem no país gerando um nível de competitividade com as empresas brasileiras bastante desleal", foi desleal para os empresários brasileiros, e para o consumidor? Foi benéfico? Mesmo aumentando o nível de desemprego?
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