sábado, 6 de outubro de 2012

As pegadas da ocupação: boi vivo, Amazônia e a fronteira-mundo

Por Wesley Oliveira (*)

O Brasil é atualmente o segundo maior produtor mundial de carne bovina, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (EUA). Dados para anos mais recentes mostram que a produção brasileira apresenta taxa de variação anual um pouco maior que a estadunidense, o que levaria a especular, mantendo-se a tendência recente, que o Brasil ultrapassaria a produção do referido país em um futuro não muito longínquo. Vale observar que empresas brasileiras do setor estão se internacionalizando, como o caso da JBF.

A análise das exportações de bovinos tem importância dupla: i) é o segundo principal produto do ranking das vendas ao exterior paraense; ii) é central a necessidade de explicitar que, embora os produtos minerais sejam disparadamente os destaques, existem outros produtos primários na pauta exportadora paraense.

Produção de carne bovina – Brasil e Estados Unidos, 2005-2011
Fonte: ABIEC (2012).
(*) Estimativa.

Em termos de participação relativa, os Estados Unidos eram responsáveis por 20,1% da produção mundial de carne bovina em 2005, alcançando 20,8% em 2011; já o Brasil participava no mercado mundial, considerando os mesmos anos, com os percentuais de 15,6% e 17%, segundo os dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (ABIEC).

Na atualidade (2012), o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, seguido pelos Estados Unidos. Só em 2011 o Brasil exportou aproximadamente US$ 5,4 bilhões em carne bovina (in natura, industrializada, tripas, miúdos e salgada), um aumento de 12% em relação ao ano anterior, conforme apresentado em relatório da ABIEC.

Aspecto central referente à exportação bovina é a saída de animais vivos para o exterior, mais especificamente de boi vivo (considera-se bovino e búfalo). É um ponto central porque envolve diretamente a Amazônia, mais especificamente o Estado do Pará.

As exportações brasileiras de bovino vivo, embora não sendo centrais em relação ao total das exportações do país, apresenta números importantes.  Enquanto no ano de 2000 o Brasil exportou US$ 232,5 mil em animais vivos, já em 2011 o valor foi de US$ 444,8 milhões (ou 0,17% do total exportado no referido ano).

O Pará é a principal unidade federativa exportadora de bovinos vivos, conforme apresentado no gráfico abaixo, sendo responsável por mais de 95% das atuais exportações de bovinos vivos do país.

Exportações de bovinos vivos do Brasil e participação do Pará nas exportações do produto, 2000-2011
Fonte: MDIC (2012). Elaboração própria.

Apesar da relativa menor influência nas exportações do Estado do Pará, com sua pauta exportadora centrada na mineração, o bovino vivo vem ganhando espaço nas exportações do estado e do país. Em 2005 as vendas ao exterior de bovinos vivos do Pará representavam 0,3% da sua pauta, enquanto em 2011 o percentual atingiu 2,3%. Os destinos das exportações de bovinos vivos do Pará em 2011 são apenas dois: Venezuela (83,8%) e Líbano (16,22%). Ainda para 2011, a quantidade de bovino exportado foi de 384.056 unidades (cabeças), totalizando US$ 428,9 milhões. De janeiro a setembro de 2012, o valor exportador já atingiu US$ 415 milhões.

Vale observar que, tal como a mineração, a exportação de bovino vivo é forte sinal da subordinação histórica do Pará e da região amazônica a um padrão cíclico da economia-mundo capitalista, cuja ruptura é uma condicionalidade não somente local, mas, sobretudo, nacional.

(*) Economista. O autor agradece ao prof. José Raimundo Trindade (PPGE/UFPA) por seus comentários.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Seminário discutiu comércio exterior


Foi realizado nos dias 26 a 28 de setembro o seminário Economia Política Internacional e Vulnerabilidade Externa Brasileira. Tópicos sobre as relações econômicas internacionais foram apresentados e discutidos com alunos da graduação e da pós-graduação em economia e de outros cursos da UFPA.

Além das palestras dos professores José Raimundo Trindade e Paul Cooney (ambos do PPGE/UFPA), os alunos tiveram contato com ferramentas de comércio exterior (fontes de dados) nacionais e internacionais.

Outros eventos dessa natureza estão sendo programados.




sábado, 22 de setembro de 2012

Bases analíticas das relações econômicas internacionais (I)

Por José Trindade

A análise do comércio exterior, bem como a contabilidade do balanço de pagamentos, incluindo a balança comercial, sempre foi tratada pela economia ortodoxa como itens separados dos aspectos de interação geoeconômica e da divisão internacional das relações de produção capitalistas e da acumulação de capital.

O estabelecimento de uma base teórica heterodoxa para tratamento das relações econômicas internacionais é uma propositura necessária e que tem sido buscada com alguma efetividade a partir do aporte da chamada “Economia Política Internacional”.

Em seu famoso texto de 1848, Marx (2010)1 já localizava o desenvolvimento capitalista na sua real esfera de expansão: o mercado mundial, fruto da grande indústria e da crescente competição entre capitais e estados modernos.

Nos últimos trinta anos a combinação da crescente desregulação financeira e o maior afluxo de capitais gerou um novo período de globalização, cuja tônica foi reforçar a dinâmica de uma economia capitalista plenamente mundializada. Seguindo Arrighi & Silver (2001)2, pode-se observar uma dupla tendência resultantes da expansão do comércio internacional e da produção transnacionalizada: i) por um lado,  gera-se uma massa crescente de capitais que buscam valorização em qualquer ponto do planeta; ii) por outro, acirra-se as disputas territoriais, aumentando a competição entre os Estados pelo fluxo de capital forâneo.

A busca de uma metodologia para estudar os fenômenos das relações capitalistas internacionais tem estimulado diferentes esforços de formulação teórica. Vale expor alguns elementos metodológicos da chamada Economia Política Internacional (EPI), seguindo de perto a exposição de Gonçalves (2005)3:

“A EPI é um método de análise que tem como foco a dinâmica do sistema econômico internacional em suas distintas esferas e dimensões, que resulta das ações e decisões de atores nacionais e transnacionais, cuja conduta é determinada por fatores objetivos e subjetivos”.

Consideramos que as diferentes dimensões ponderadas estão integradas em cinco vetores de análise fundamentais:
i) A acumu
lação capitalista enquanto dimensão própria, consistente com a competição em diferentes níveis dos Capitais específicos, principalmente na forma de grandes empresas transnacionais.
ii) As relações de reciprocidade e divergência entre os Estados nacionais, conformando esferas de influência e campos de disputa hegemônica.
iii) As interações entre Capitais e Estados, condicionando as relações de poder internacional e dimensionando a maior ou menor fragilidade das economias nacionais.
iv) As diferentes esferas de contratação necessárias ao desenvolvimento do sistema econômico internacional, seja instituições de poder econômico amplo (OMC, Banco Mundial, FMI, MCE, etc.) ou restritos (BIS, BIRD, ALCA, MERCOSUL, etc.), seja instituições de poder político também amplos ou restritos (ONU, OEA, ASIAN, etc.).
v) As diferentes esferas culturais, organizacionais, políticas e sociais de contraposição (planejada ou não) a ordem internacional hegemônica.

Em texto seguinte avançaremos na análise de cada um dos pontos enunciados, buscando contribuir na formulação de pontos analíticos de uma percepção crítica e radical da EPI.

______
(1) MARX, K.; ENGELS, F.  Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010.
(2) ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e Governabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora UFRJ, 2001.
(3) GONÇALVES, R. Economia Política Internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Seminário I: Economia Política Internacional e Vulnerabilidade Externa Brasileira

O projeto LIMITAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO NACIONAL A PARTIR DE DESEQUILÍBRIOS NA BALANÇA COMERCIAL, com financiamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), promove de 26 a 28 de setembro seu I Seminário e I Oficina temática, como parte de sua programação regular.

Para mais informações, favor consultar o folder abaixo.
(clique na imagem para ampliar)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Política externa brasileira será abordada em seminário


Será realizado em Brasília, nos dias 18 e 19/set, seminário que terá como tema principal os desafios da política externa.

Além da mesa de abertura, o seminário Os desafios da política externa brasileira em um mundo em transição está organizado em seis painéis que serão compostos por especialistas (políticos, empresários, acadêmicos, gestores públicos etc.) que versarão sobre os seguintes temas:

- O Mercosul e a Unasul: Desafios para o Aprofundamento da Integração Sul-Americana
- O Contexto Geopolítico Internacional e os desafios à Política Externa Brasileira
- Crise e Reforma do Sistema Financeiro Internacional
- Brasil e a Geopolítica da Energia
- O Brasil e a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento
- Ascensão da China: desafios para o Brasil

A realização do evento é por conta do Ipea e da Câmara dos Deputados.

Mais informações e inscrição, clique aqui.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Boas vindas ao debate: políticas de desenvolvimento e vulnerabilidade externa brasileira

Por José Trindade

A trajetória histórica da economia brasileira se apresenta pontuada por uma dinâmica fortemente influenciada pelo setor externo da economia, o que também está presente nas demais economias latino-americanas, porém a diversificação setorial produtiva e uma crescente maior participação do PIB brasileiro em relação ao PIB mundial (de 2,13% em 1980 para 3,4% em 2010, segundo dados do Banco Mundial) foi uma marca diferenciadora ao longo das últimas décadas.

Seguindo o raciocínio da Professora Conceição Tavares, o processo de substituição de importações enquanto resposta ao “estrangulamento externo” brasileiro estabeleceu a expansão e mudança contínua da estrutura industrial nacional no amplo período de 1960 a 1980, sendo que o período de 1956 a 1961 foi caracterizado pelo estabelecimento, ainda que parcial, dos principais segmentos industriais da economia brasileira, tanto com o aumento da participação direta e indireta do Governo nos investimentos, quanto pela entrada mais expressiva de capital estrangeiro privado e oficial para financiar parcela importante dos investimentos nesses segmentos.

A não completitude da estrutura industrial brasileira, no sentido de ainda apresentar lacunas principalmente nas etapas de engenharia de produção e desenvolvimento de bens de maior intensidade tecnológica, parece reforçar a intuição da autora em tela quanto ao desenvolvimento da economia brasileira. Neste sentido, especificamente as condições de evolução da pauta exportadora brasileira nos últimos anos recoloca a questão da problemática do desenvolvimento restringido, seja pela estrutura industrial com baixa intensidade tecnológica, seja pelas condições estruturais de repartição da renda e da riqueza nacional e também pelas condições impostas pelas instituições internacionais, como a OMC (Organização Mundial do Comércio).

A análise evolutiva da pauta exportadora brasileira é central para estruturação de um novo modelo de desenvolvimento, sendo que não havendo ações de política econômica mais focada em uma nova política industrial, caminha-se para um novo impasse de “estrangulamento externo” da economia brasileira, assim nos disponibilizamos a aprofundar a análise e propor políticas específicas para o setor industrial externo brasileiro.

Enquanto campo de pesquisa acadêmica, o “Observatório do Comércio Exterior Brasileiro” é mais uma ferramenta do Programa de Pós-graduação em Economia da Universidade Federal do Pará (PPGE/UFPA), sendo parte do projeto de pesquisa LIMITAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO NACIONAL A PARTIR DE DESEQUILÍBRIOS NA BALANÇA COMERCIAL que envolve professores e alunos dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Economia.

O Blog possibilitará também análises mais pontuais e circunscritas da dinâmica do comércio exterior paraense e brasileiro, assim como terá artigos de interesse que possibilite aos que acessarem esta ferramenta uma visão mais centrada no Desenvolvimento com a perspectiva de uma sociedade brasileira qualificadamente mais rica, o que implica diversificação produtiva, aumento da produtividade, maior inserção tecnológica nacional, como principalmente, elevação da qualidade e das condições de viver do povo brasileiro.