sexta-feira, 15 de março de 2013

Desenvolvimento em debate na Code

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizará no período de 19 a 21 de março a Conferência do Desenvolvimento (Code), em Brasília. O evento conta com a parceria do Ministério da Integração Nacional que realizará, paralelamente, a Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional. 



Durante os três dias do evento, temas como desenvolvimento regional, migração, juventude e trabalho, sustentabilidade ambiental, justiça, entre outros serão discutidos por especialistas de diversas instituições de ensino, pesquisa e do governo. 

Na ocasião, o professor José Raimundo Trindade, do PPGE/UFPA, irá apresentar o artigo Bases Analíticas da Economia Política do Comércio Exterior Brasileiro. O trabalho é resultado de projeto de pesquisa financiado pelo Ipea no âmbito do edital Apoio a Estudos Científicos para a reflexão do Estado da Arte. 

Confira a programação completa do evento aqui.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Brasil e a vulnerabilidade externa comercial

Por Thiago Gedson (*) 


Podemos dizer que a globalização é um fenômeno gerado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma aldeia global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos desenvolvidos), cujos mercados internos já estão saturados. 

O processo de globalização diz respeito à forma como os países interagem e aproximam pessoas, ou seja, interliga o mundo, levando em consideração aspectos econômicos, sociais, culturais e políticos. Assim, observamos que as relações econômicas como também as relações sociais, culturais e políticas, no âmbito global têm criado laços estreitos de interação entre vários países e, consequentemente, gerando uma dinâmica sociocultural que ultrapassa as barreiras naturais dando origem a certos conflitos de interesses entre estado-nações. 

Considerando os efeitos da globalização e relacionando com os aspectos econômicos, como o surgimento dos blocos econômicos, diminuição das tarifas alfandegárias e até em alguns casos uma unificação monetária, fica bem claro que a postura em que cada país vai tomar está estritamente vinculada a sua perspectiva de alcançar vantagens que lhe retornem como crescimento econômico promissor, maior inserção no cenário internacional e ampliação do seu mercado, este ultimo, principalmente pelas condições que a globalização, via transportes e comunicação, podem oferecer. 

Então, o modo de produção capitalista exige que se tenha uma interação entre países (para alcançar as vantagens acima citadas) e isso é possível graças às ferramentas da globalização, em que cada país, visando alcançar seus interesses, busca o seu crescimento econômico, mesmo que para isso venha a explorar outras nações. 

Dadas essas condições, os países que economicamente estão desprotegidos se encontram em um estado de vulnerabilidade. Assim, se consideramos a baixa capacidade de resistência a pressões, fatores desestabilizadores e choques externos, podem, então, definir a vulnerabilidade e por tanto podemos aplicá-la a análise das relações externas entre nações. 

Então, segundo Gonçalves (1999), “no caso das nações a vulnerabilidade externa coloca a economia em uma trajetória de instabilidade e crise, que faz com que crises cambiais provoquem crises econômicas e sociais, que acabam se transformando em crises políticas e institucionais”. Assim, a vulnerabilidade externa passa a ser uma preocupação crescente entre as nações, haja vista que as relações internacionais estão cada vez mais se interligando de forma que um simples movimento de um aumento da taxa de juro de um país pode influenciar o fluxo dos níveis de investimentos externos direto para outro país. 

A vulnerabilidade externa pode ser compreendida dentro da esfera econômica analisando as dimensões financeira, comercial, tecnológica e produtiva real. Observado essas dimensões e comparando com a trajetória da economia brasileira, podemos analisar que houve um aumento extraordinário da vulnerabilidade externa do Brasil a partir de 1995, com a efetivação do Plano Real, a qual abriu a economia brasileira de forma indiscriminada, acentuando a vulnerabilidade externa. 

A abertura comercial brasileira sem critérios e de baixa seletividade, acabou permitindo que produtos importados adentrassem no país gerando um nível de competitividade com as empresas brasileiras bastante desleal, pois os bens e serviços produzidos por empresas nacionais não estavam no mesmo nível de qualidade e preço que os produtos importados, e isso foi rapidamente notado pelos consumidores brasileiros que tiveram nas prateleiras dos supermercados uma variedade de bens que antes não tinham. Por trás dessa nova fisionomia da balança comercial brasileira, que tem um volume de importação maior que o nível de exportação, podemos destacar pelo menos dois aspectos importantes, visto pela ótica da vulnerabilidade externa. 

Primeiro, a abertura comercial brasileira que trouxe os produtos importados para os mercados nacionais criou um ambiente de acirrada competitividade, entre empresas nacionais e internacionais. As empresas brasileiras que não tiveram condições de se modernizar e acompanhar o ritmo da concorrência com os produtos importados tiveram que fechar as portas. Obviamente, que as empresas que se encontraram nessa condição geraram uma massa de demissões, aumentando o nível de desemprego. 

O segundo aspecto a destacar gira em torno da mudança dos produtos da pauta de exportação brasileira, pois a partir da abertura comercial houve uma diminuição da participação dos produtos manufaturados na pauta, ao passo que a exportação de produtos primários vem aumentando, gerando uma nova fisionomia na pauta exportadora do Brasil. Esse aspecto da economia brasileira é constatado por Trindade et al (2012) quando enfatiza a reprimarização da pauta de exportação brasileira ao destacar o setor da agroindústria e a mineração em detrimento da indústria de transformação.


Referências:
GONÇALVES, Reinaldo. Globalização e desnacionalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999.

TRINDADE, J. R. B.; COONEY, P.; OLIVEIRA, W. P. Trajetória industrial e desenvolvimento econômico: dilemas do processo de especialização primária da economia brasileira. In: XVII Encontro Nacional de Economia Política, 2012, Rio de Janeiro, RJ. Anais do XVII Encontro Nacional de Economia Política, 2012.

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(*) Bolsista de Iniciação Científica. O autor agradece ao prof. José Raimundo Trindade por seus comentários, considerando as isenções de praxe.

sábado, 3 de novembro de 2012

O tempo e a composição dos destinos: exportações paraenses e as lições deixadas pela crise

Luís Flávio Maia Lima (*)

A intenção deste texto é refletir, em parte, sobre as consequências da crise mundial de 2007, suas repercussões para o setor exportador paraense e as lições extraídas de tal crise. Obviamente, não existe aqui a pretensão de esgotar o assunto nestas poucas linhas que seguem. 

A crise mundial de 2007, iniciada nos Estados Unidos pela implosão das operações de subprime e ampliada no seu escopo pela quebra do Lehman Brothers em 2008, possui um caráter emblemático quando comparada as demais crises monetárias dos últimos vinte anos – como a mexicana (1994), a asiática (1997), a russa (1998), a brasileira (1999). Tal singularidade deve-se, sobretudo, a dois fatores: 1) sua abrangência, devido a maior escala de consequências decorrente do alto grau de especulação no campo monetário, bem como da integração das economias e; 2) a temporalidade da mesma, tendo em vista que já decorre aproximadamente cinco anos do seu início, cuja marca atual é a crise da chamada Zona do Euro, onde o objetivo das ações das agências multilaterais é evitar a quebra sistêmica do setor financeiro. 

Esta crise mundial já é de médio prazo e certamente, nos ditames dos economistas, os efeitos sobre a economia brasileira foram (e são) inúmeros, particularmente em um primeiro momento. Concentrada a crise nos Estados Unidos, o país que a deflagrou determinou a contração parcial das exportações e do consumo, acarretando a adoção de medidas anticíclicas ao longo de 2008 e 2009 no Brasil, a fim de amenizar os efeitos da crise sobre as atividades produtivas brasileiras, o que ocasionou a reação pontual da Brasil, em 2010. 

As reações seguintes advêm da lenta recuperação dos EUA, do aumento da liquidez do dólar e da redução da taxa de juros americana, que não alteraram o curso da crise, ao contrário: o elevado grau de alavancagem dos bancos europeus aliado a compra de títulos do governo norte-americano pelos países europeus visando equilibrar a economia mundial redundou no descompasso fiscal e contribui para aprofundar os problemas da Europa, o que alonga a crise e amplia seus efeitos. 

Em razão deste cenário global observa-se ao longo de 2011 e 2012 a desaceleração do consumo mundial, a retração das atividades na Europa e na Ásia, o que imbricou negativamente o Brasil, notadamente no campo das exportações, afetando a oferta agregada, dado o efeito de transmissão, e consumo interno, devido a interligação entre as demandas e a produção. 

A equipe econômica brasileira adota e adotou, nos últimos dois anos, diversas medidas com o propósito de reverter o quadro de estagnação econômica, tais como: a redução da taxa Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC), a desoneração da folha de pagamento em atividades específicas, a supressão temporária de IPI em segmento cuja cadeia produtiva prova efeitos para frente e para trás – construção civil e indústria automotiva, por exemplo –, ampliação da linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), entre outros instrumentos. 

Desse modo, é fato que a crise mundial afeta as exportações brasileiras em todos os níveis, especialmente os commodities e produtos básicos e/ou intermediários e, neste ponto, a pauta de exportação paraense, centrada e concentrada na comercialização destes bens (minério de ferro, alumínio não ligado, ferro fundido, pasta química de madeira, pimenta do reino etc.). 

Em razão da dependência observada, é natural a inflexão no volume exportado e na participação do setor exportador paraense, o que ocorrerá em 2012(1) e 2013, como ocorreu em 2009 (ver tabela a seguir). A questão central que emerge não é focada no âmbito conjuntural da inflexão e de suas causas, é sim estrutural, o que deve ser o cerne do debate no estado. 

O cerne do problema na pauta paraense é a incapacidade de mudar, por dentro, a base produtiva estadual, vinculada ao mercado externo e centrada em commodities. Nesse sentido, o fator “tempo” – onde a governança é nula e, como escreveu Keynes, “no longo prazo todos estaremos mortos” – colide contra a esperança, pois, a eclosão da crise mundial e seus reflexos poderiam, positivamente, alterar o curso da história local, principalmente na mudança relativa, decorrente da desconcentração nas exportações de bens básicos e semimanufaturados, para os produtos transformados. 

A leitura da tabela abaixo explicita o grau de dificuldade e a incapacidade de usar a crise como diferencial de mudança na base produtiva paraense, posto que, a taxa de participação da exportação de básicos ascende ao longo do tempo, visto que, em 2006 a representatividade era de aproximadamente 51% e, em 2011 alcança cerca de 78%.

Exportações do Pará por Fator Agregado (em US$ 1.000), 2006-2011

Fonte: MDIC. (Clique na imagem para ampliar)


Quando somadas as exportações dos produtos básicos aos bens semimanufaturados constata-se que no ano de 2006 o indicador alcança a taxa de 83,10% sobre o total das exportações, percentual este que aumenta no decorrer dos anos, atingindo o valor de 89,59% em 2011. Este resultado, além de preocupante, dada sua representatividade, revela não somente as limitações das exportações paraenses, mas fundamentalmente a incapacidade de aprofundar o processo de industrialização no interior dos empreendimentos ou no seu encadeamento através da inovação, como na oferta na pauta de exportação de novos bens, oriundos de um processo de qualificação de insumos e mercadorias regionais com potencialidade de agregação de valor, como, por exemplo, extrato de pimenta ou óleo de semente de maracujá. 

Neste período, as exportações de manufaturados, que acusam um maior valor agregado em termos de valor, recuam de 16,87% em 2006 para 10,21% em 2011. Estes percentuais revelam não somente o drama, mas a perda de oportunidade advinda da crise que poderia ocasionar uma transformação estrutural no interior das atividades produtivas paraenses. Ou seja, no tempo de vigência da crise a partir de 2007, e na perspectiva de sua continuidade nos três anos seguintes, o setor produtivo estadual e o governo do Estado não foram capazes de promover ações que transformassem a crise em janela de oportunidade, um salto necessário para revolucionar a limitada economia paraense. 

Captar este momento de crise e transformá-lo em elemento de ruptura de uma situação limitante, como é o caso da economia paraense, é o ponto central do Plano Brasil Maior, que visa qualificar o processo produtivo através da inovação e ao mesmo tempo, do adensamento produtivo objetivando alcançar a transformação estrutural no seio das atividades produtivas. 

Ao final de 2012, a crise mundial completa cinco anos e a previsão mais otimista é de que ainda perdure por mais três anos, o que totalizará oito anos. Ora, se não fomos capazes de alterar o perfil da pauta paraense nos últimos cinco anos, dificilmente produziremos uma mudança qualitativa em três anos. 

A configuração deste cenário ratifica o fato de que não somos capazes de induzir, qualitativamente, alterações no interior da economia paraense, e que as mudanças resultam de forças exógenas, como os grandes projetos. Assim, a origem dos nossos problemas é diversa. Nasce de fatores como as limitações dos nossos governantes e dos pactos partidários restritos aos ganhos dos grupos que compartilham o poder, bem como da incapacidade de construção de uma visão estrutural e de longo prazo de sociedade, que deveria focalizar a redução das desigualdades, através de investimentos sociais e de produção, vinculados ao uso qualitativo dos recursos naturais regionais, aliado à agregação do seu valor. 

Romper com a atual política de incentivos tributários, voltada para o segmento empresarial com inserção na política partidária estadual e apartada, por falta de competência, da inovação ou do potencial de novas atividades é fundamental para modernizar tal instrumento. Isto significa que este mecanismo deve existir e ser utilizado de forma seletiva, focado em empreendimentos portadores do futuro, o que não é o caso no momento. Com isso se reduziria o esforço fiscal que pesa sobre a sociedade e, simultaneamente, modernizaria – por dentro – o setor industrial estadual, elevando o nível dos investimentos sob responsabilidade do Estado. 

A transformação do Fundo de Desenvolvimento do Estado (FDE) em um Fundo de Investimento ou em um Banco de Desenvolvimento é uma alternativa que reduziria o peso político do uso feito deste fundo atualmente, e que possibilitaria o direcionamento dos recursos ao estímulo e apoio a empreendimentos tradicionais, hoje atendidos pela política de incentivos tributários. Deste modo, a criação do fundo ou do banco seria uma via de abertura de oportunidades para o surgimento de novas empresas e seu crescimento, em razão do retorno sobre o valor emprestado, o que ampliaria o parque fabril no Estado. 

Executar os projetos, bem como ampliar, com garantia de pessoal e de orçamento, a política estadual de arranjos produtivos, localizados em sua maioria no interior do Estado, é um dos caminhos de base para alterar a matriz produtiva estadual. Nesse sentido, o resultado de médio e de longo prazo é a formação de empreendimentos de médio porte, sustentáveis. As exportações funcionariam como um fator de consolidação dos mesmos, alterando o atual perfil da pauta de exportação paraense. 

Expandir e implantar novos Distritos Industriais com perfis produtivos baseados no uso do potencial dos bens regionais – que redunda na diversificação da matriz produtiva – e concluir os parques de Ciência e Tecnologia, especialmente os de Santarém e de Belém – focados na inovação, através da qualificação dos insumos regionais e sua transformação industrial agregando valor – é outro ponto importante a ser considerado no campo industrial e das exportações paraenses. 

De outro modo, transformar as compras governamentais em motor de sustentabilidade para as pequenas empresas é ponto importante para formação e consolidação do capital local. Neste ponto, permitir a possibilidade de crescimento com transbordamento para a exportação com uma função complementar, tende a alterar o perfil exportador paraense. 

Fomentar a cultura exportadora no interior do Estado focado nos empresários e nos técnicos bem como a implementação de Salas de Comércio Exterior em municípios estratégicos direcionadas a orientação e desembaraço aduaneiro são medidas importantes para alterar o perfil da pauta e, ao mesmo, ampliá-la e qualificá-la. 

Por fim, o Estado não assume o seu papel institucional de indutor e, na verdade, apenas funciona como ação reativa de uma situação dada. Investir na construção de uma política industrial direcionada para potencialidades portadoras de futuro, aliada a um planejamento estratégico de Estado e, não de governo, é o ponto que precisa ser considerado no todo, para sairmos da inércia, conforme se constata através dos dados da exportação e do perfil dos produtos exportados. 

Portanto, decorridos cinco anos da crise mundial as exportações paraenses se mantiveram no mesmo patamar. As alternativas de futuro, não utilizadas, demonstram novamente que perdemos o tempo da história e da possibilidade de transformação qualitativa da economia paraense. Isto é: não nos mostramos capazes de alterar a trajetória. Assim, só nos resta a doce poesia de Caetano Veloso, na canção Oração ao Tempo: “compositor de destinos, tambor de todos os ritmos/ Tempo, tempo, tempo, tempo entro num acordo contigo”. 

Referências: 

LIMA, Luís Flávio Maia. Exportação Paraense: enfoque analítico pela ótica das empresas exportadoras 1992-1997. Belém, 2006 (Dissertação de Mestrado). 

MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Estatísticas de comércio exterior. Disponível em: www.desenvolvimento.gov.br. Acessado em: 28 de setembro de 2012. 

REDDY, Sudeep; FRANGOS, Alex. Comércio externo fraco ameaça economia mundial. In: Jornal Valor Econômico. The Wall Street Journal Americas. p. B9. 02 de outubro de 2012.

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(*) Economista, professor universitário. E-mail: lufla2@yahoo.com.br.

(1) A queda só não é maior devido à desvalorização do real ao longo de 2012.

sábado, 6 de outubro de 2012

As pegadas da ocupação: boi vivo, Amazônia e a fronteira-mundo

Por Wesley Oliveira (*)

O Brasil é atualmente o segundo maior produtor mundial de carne bovina, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (EUA). Dados para anos mais recentes mostram que a produção brasileira apresenta taxa de variação anual um pouco maior que a estadunidense, o que levaria a especular, mantendo-se a tendência recente, que o Brasil ultrapassaria a produção do referido país em um futuro não muito longínquo. Vale observar que empresas brasileiras do setor estão se internacionalizando, como o caso da JBF.

A análise das exportações de bovinos tem importância dupla: i) é o segundo principal produto do ranking das vendas ao exterior paraense; ii) é central a necessidade de explicitar que, embora os produtos minerais sejam disparadamente os destaques, existem outros produtos primários na pauta exportadora paraense.

Produção de carne bovina – Brasil e Estados Unidos, 2005-2011
Fonte: ABIEC (2012).
(*) Estimativa.

Em termos de participação relativa, os Estados Unidos eram responsáveis por 20,1% da produção mundial de carne bovina em 2005, alcançando 20,8% em 2011; já o Brasil participava no mercado mundial, considerando os mesmos anos, com os percentuais de 15,6% e 17%, segundo os dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carnes (ABIEC).

Na atualidade (2012), o Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, seguido pelos Estados Unidos. Só em 2011 o Brasil exportou aproximadamente US$ 5,4 bilhões em carne bovina (in natura, industrializada, tripas, miúdos e salgada), um aumento de 12% em relação ao ano anterior, conforme apresentado em relatório da ABIEC.

Aspecto central referente à exportação bovina é a saída de animais vivos para o exterior, mais especificamente de boi vivo (considera-se bovino e búfalo). É um ponto central porque envolve diretamente a Amazônia, mais especificamente o Estado do Pará.

As exportações brasileiras de bovino vivo, embora não sendo centrais em relação ao total das exportações do país, apresenta números importantes.  Enquanto no ano de 2000 o Brasil exportou US$ 232,5 mil em animais vivos, já em 2011 o valor foi de US$ 444,8 milhões (ou 0,17% do total exportado no referido ano).

O Pará é a principal unidade federativa exportadora de bovinos vivos, conforme apresentado no gráfico abaixo, sendo responsável por mais de 95% das atuais exportações de bovinos vivos do país.

Exportações de bovinos vivos do Brasil e participação do Pará nas exportações do produto, 2000-2011
Fonte: MDIC (2012). Elaboração própria.

Apesar da relativa menor influência nas exportações do Estado do Pará, com sua pauta exportadora centrada na mineração, o bovino vivo vem ganhando espaço nas exportações do estado e do país. Em 2005 as vendas ao exterior de bovinos vivos do Pará representavam 0,3% da sua pauta, enquanto em 2011 o percentual atingiu 2,3%. Os destinos das exportações de bovinos vivos do Pará em 2011 são apenas dois: Venezuela (83,8%) e Líbano (16,22%). Ainda para 2011, a quantidade de bovino exportado foi de 384.056 unidades (cabeças), totalizando US$ 428,9 milhões. De janeiro a setembro de 2012, o valor exportador já atingiu US$ 415 milhões.

Vale observar que, tal como a mineração, a exportação de bovino vivo é forte sinal da subordinação histórica do Pará e da região amazônica a um padrão cíclico da economia-mundo capitalista, cuja ruptura é uma condicionalidade não somente local, mas, sobretudo, nacional.

(*) Economista. O autor agradece ao prof. José Raimundo Trindade (PPGE/UFPA) por seus comentários.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Seminário discutiu comércio exterior


Foi realizado nos dias 26 a 28 de setembro o seminário Economia Política Internacional e Vulnerabilidade Externa Brasileira. Tópicos sobre as relações econômicas internacionais foram apresentados e discutidos com alunos da graduação e da pós-graduação em economia e de outros cursos da UFPA.

Além das palestras dos professores José Raimundo Trindade e Paul Cooney (ambos do PPGE/UFPA), os alunos tiveram contato com ferramentas de comércio exterior (fontes de dados) nacionais e internacionais.

Outros eventos dessa natureza estão sendo programados.




sábado, 22 de setembro de 2012

Bases analíticas das relações econômicas internacionais (I)

Por José Trindade

A análise do comércio exterior, bem como a contabilidade do balanço de pagamentos, incluindo a balança comercial, sempre foi tratada pela economia ortodoxa como itens separados dos aspectos de interação geoeconômica e da divisão internacional das relações de produção capitalistas e da acumulação de capital.

O estabelecimento de uma base teórica heterodoxa para tratamento das relações econômicas internacionais é uma propositura necessária e que tem sido buscada com alguma efetividade a partir do aporte da chamada “Economia Política Internacional”.

Em seu famoso texto de 1848, Marx (2010)1 já localizava o desenvolvimento capitalista na sua real esfera de expansão: o mercado mundial, fruto da grande indústria e da crescente competição entre capitais e estados modernos.

Nos últimos trinta anos a combinação da crescente desregulação financeira e o maior afluxo de capitais gerou um novo período de globalização, cuja tônica foi reforçar a dinâmica de uma economia capitalista plenamente mundializada. Seguindo Arrighi & Silver (2001)2, pode-se observar uma dupla tendência resultantes da expansão do comércio internacional e da produção transnacionalizada: i) por um lado,  gera-se uma massa crescente de capitais que buscam valorização em qualquer ponto do planeta; ii) por outro, acirra-se as disputas territoriais, aumentando a competição entre os Estados pelo fluxo de capital forâneo.

A busca de uma metodologia para estudar os fenômenos das relações capitalistas internacionais tem estimulado diferentes esforços de formulação teórica. Vale expor alguns elementos metodológicos da chamada Economia Política Internacional (EPI), seguindo de perto a exposição de Gonçalves (2005)3:

“A EPI é um método de análise que tem como foco a dinâmica do sistema econômico internacional em suas distintas esferas e dimensões, que resulta das ações e decisões de atores nacionais e transnacionais, cuja conduta é determinada por fatores objetivos e subjetivos”.

Consideramos que as diferentes dimensões ponderadas estão integradas em cinco vetores de análise fundamentais:
i) A acumu
lação capitalista enquanto dimensão própria, consistente com a competição em diferentes níveis dos Capitais específicos, principalmente na forma de grandes empresas transnacionais.
ii) As relações de reciprocidade e divergência entre os Estados nacionais, conformando esferas de influência e campos de disputa hegemônica.
iii) As interações entre Capitais e Estados, condicionando as relações de poder internacional e dimensionando a maior ou menor fragilidade das economias nacionais.
iv) As diferentes esferas de contratação necessárias ao desenvolvimento do sistema econômico internacional, seja instituições de poder econômico amplo (OMC, Banco Mundial, FMI, MCE, etc.) ou restritos (BIS, BIRD, ALCA, MERCOSUL, etc.), seja instituições de poder político também amplos ou restritos (ONU, OEA, ASIAN, etc.).
v) As diferentes esferas culturais, organizacionais, políticas e sociais de contraposição (planejada ou não) a ordem internacional hegemônica.

Em texto seguinte avançaremos na análise de cada um dos pontos enunciados, buscando contribuir na formulação de pontos analíticos de uma percepção crítica e radical da EPI.

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(1) MARX, K.; ENGELS, F.  Manifesto Comunista. São Paulo: Boitempo, 2010.
(2) ARRIGHI, G.; SILVER, B. J. Caos e Governabilidade. Rio de Janeiro: Contraponto; Editora UFRJ, 2001.
(3) GONÇALVES, R. Economia Política Internacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Seminário I: Economia Política Internacional e Vulnerabilidade Externa Brasileira

O projeto LIMITAÇÕES AO DESENVOLVIMENTO NACIONAL A PARTIR DE DESEQUILÍBRIOS NA BALANÇA COMERCIAL, com financiamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), promove de 26 a 28 de setembro seu I Seminário e I Oficina temática, como parte de sua programação regular.

Para mais informações, favor consultar o folder abaixo.
(clique na imagem para ampliar)